O descaso do Brasil com a cultura japonesa

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Texto escrito por: Rodrigo Lopes.


      A cultura japonesa é responsável por obras de grande valor, com uma sensibilidade e maneira de lidar com determinados temas de um jeito diferente do ocidente. Suas histórias são muitas vezes excêntricas e de um nível de criatividade absurdo, e eles não tem medo de nos causar todo tipo de emoções. Juntando isso ao fato de, boa parte das vezes, não subestimarem a inteligência do espectador (com detalhes pequenos que fazem a diferença e questões com respostas que ficam no ar), é evidente que é uma cultura famosa e querida em outros lugares ao redor do mundo. Já que é esse o caso, me impressiona o fato de nosso país não dar a merecida atenção a essa cultura. O que é uma pena, já que, assim como vocês, sou um apreciador do que eles fazem, e esse tipo de coisa me entristece.

      Pra começar, parte do que me fez querer escrever esse artigo é a não inclusão de "Fate/Stay Night: Heaven's Feel Movie - I. presage flower" nos cinemas brasileiros. Sou fã da série, e estou ouvindo muitos comentários positivos a respeito do filme (que já foi lançado no Japão). É uma obra feita para se ver nos cinemas, com uma qualidade de arte belíssima e uma trilha sonora composta por uma das melhores compositoras dos animes: Yuki Kajiura. Mas, ao invés de aproveitar da maneira certa, com toda a qualidade possível, terei que me contentar em ver em um monitor já velho e com uma caixa de som com oscilações entre baixo e alto (ainda que com fone de ouvido). O filme vai estrear nos EUA, então por que não aqui também? Ainda que fosse em um cinema longe de mim, e em poucas sessões, eu compraria ingresso no dia em que abrisse a pré-venda, e estaria lá na estreia. Mas não vou ter esse luxo.

      Recentemente, Kimi No Na Wa (também conhecido como Your Name) estreou aqui no Brasil, e foi um sucesso, com salas lotadas. É verdade que passou em poucos cinemas, e apenas em duas sessões (pelo menos aqui na minha cidade), mas ainda assim foi uma raridade, além de ter sido uma ótima experiência (da qual análise foi feita pela minha irmã aqui: https://stayatnight-uaw.blogspot.com.br/2017/10/critica-do-filme-kimi-no-na-wa.html). Gostaria de acreditar que é o começo de um novo gênero aqui nos cinemas brasileiros, no qual essa incrível cultura poderia ser vista por um público ainda maior. Infelizmente, acredito que ainda continuará nessa de uma vez a cada dez ou mais anos. Creio que Heaven's Feel, ainda que não fizesse o mesmo sucesso de Kimi No Na Wa, iria se sair bem, pois nosso país também tem fãs da série (ainda se não esgotasse os ingressos em pouco tempo ou ficasse em 1° lugar, como é o caso dos EUA e Japão, respectivamente).

      Por outro lado, tal cultura poderia ser ainda mais conhecida se fizessem mais vezes o que fizeram com Dragon Ball e Naruto: abraçassem as obras orientais e investissem no marketing. DB e Naruto não teriam a fama que têm aqui no Brasil se não tivessem feito o que fizeram: passaram na TV. Aliás, foi só por causa disso que conheci tais séries quando criança, e tenho certeza que é o mesmo pra muitos. Fazer com que as histórias sejam conhecidas é essencial. O que seria do sucesso dos super-heróis da Marvel e DC hoje no país se nem lançassem versões em português dos quadrinhos? Caramba, a primeira vez que fui ao cinema foi pra ver Pokémon com meu pai (que também assistia DB e Naruto na TV comigo, e gostava). Com o tempo, fui apreciando cada vez mais o que eles faziam. Começou desse jeito, e hoje sou um fã. Animes como Boku No Hero Academia, por exemplo, poderia fazer bastante sucesso por aqui, mas não passa na TV e, portanto, é conhecido apenas por aqueles que já gostam da cultura, ao invés de ficar acessível para quem não conhece. Ainda que serviços como a Netflix tenham séries de animes, não é para todos, pois requer assinatura e, verdade seja dita, aqueles mais de R$30 fazem diferença no fim do mês (ainda que o serviço seja de qualidade).

      Outro problema é a falta de produtos a venda. Sim, vende, mas apenas em lugares específicos, e algumas coisas nem tem como achar. Conseguir um CD original de uma banda que gosta, dependendo da fama da mesma, é praticamente impossível por meio de lojas físicas. É possível comprar importado, mas todos nós sabemos do valor a mais que pagamos pra fazer isso. Mesmo grandes serviços on demand, como o Spotify, demoraram muito para adicionarem uma variedade maior de quantidade de canções japonesas. E mesmo nos contentando com figures actions, ainda assim é algo difícil de comprar devido ao absurdo preço.

      Outro incômodo também reside nos games japoneses. Ainda que alguns venham traduzidos para nosso idioma (como Final Fantasy XV, por exemplo), muitos deles vêm apenas em inglês, como é o caso dos recentes Persona 5 e Nier: Automata (eu entendo de inglês o suficiente para jogar tais games, mas tem muitos que não, e isso é ainda pior para jogos com tanto foque na história). Esse último, vale lembrar, veio em seu lançamento, apenas aqui no Brasil, com problemas e muitos simplesmente não conseguiram jogar, pois o disco Blu-Ray não aceitou instalar a atualização necessária para iniciar o game. Surgiram vários comentários de que alguns vendedores nem quiseram dar reembolso aos clientes, mesmo com o anuncio oficial da empresa de que os compradores do game deveriam fazer isso. Temos uma fama bem ruim lá no Japão, mas é totalmente justificada.


      O que impressiona é que, mesmo com todos esses contras, a cultura japonesa é extremamente conhecida e querida aqui no Brasil. Eventos caros como o Anime Friends ficam lotados, mesmo com o preço alto não só da entrada, como dos produtos vendidos lá dentro. Isso só prova que, se o país desse a devida atenção e respeito a essa fantástica cultura, iriam ganhar rios de dinheiro. Quer dizer, ainda mais do que já ganham apenas nesses eventos. Infelizmente, não acho que isso vá acontecer tão cedo. Não poderemos ver Heaven's Feel ou outras obras futuras no cinema, e nem veremos outros animes na TV, mas daremos sempre um jeito de continuar aproveitando todo o conteúdo oriental. Quer dizer, é tudo o que podemos fazer.

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