Reassistindo um clássico: Death Note (Crítica com spoilers)

As imagens são do site: https://wall.alphacoders.com/. Todos os direitos de Death Note pertencem a Obata Takeshi e Ohba Tsugumi, o anime é produzido pela Madhouse (http://www.madhouse.co.jp/).
Texto escrito por: Rodrigo Lopes.


      Death Note tem uma base de fãs muito grande. É um dos animes mais populares e famosos de todos os tempos, competindo com grandes nomes, como Naruto e Dragon Ball. É um clássico, sem dúvida. Mas já é uma obra antiga, e muitos outros animes de qualidade vieram nesse tempo. Será que ele envelheceu bem e continua em uma alta posição mesmo depois de todo esse tempo? Ou será que ficou datado? Após reassistir o anime, já tenho uma opinião quanto a isso. Então venha conferir essa análise com spoilers para saber o que acho, e relembrar os velhos (e bons) tempos, ainda mais depois de ter ficado inconformado com a adaptação da Netflix (confira nossa crítica sobre aqui: https://stayatnight-uaw.blogspot.com.br/2017/08/critica-de-death-note-2017-netflix.html). E se não viu o anime, dê meia volta e vá assistir. Não importa se é antigo, pegar spoilers ainda é muito chato, fora que você não se arrependerá. Pra quem já viu o anime ou leu o mangá, vamos continuar.


      Creio que todos que estão lendo esse texto sabem do que se trata a história, mas não custa nada relembrar. Um jovem estudante de nome Yagami Light encontra, em um dia que até o momento estava como qualquer outro, um caderno que, aparentemente, pode matar pessoas ao ter o nome dessas escrito e com o rosto da mesma em mente ao escrever. Pensando na chance de "purificar o mundo", Light começa a matar criminosos e pessoas que considera barrar o progresso da evolução humana. Com o tempo, isso chama a atenção da polícia e do governo japonês, além de L, considerado o maior detetive do mundo, que entra no caso para descobrir a identidade do responsável por isso. E é assim que começa um dos thrillers mais queridos dos animes.

      A parte básica todo mundo lembra, mas, apesar de já ser antigo, sua premissa continua original e criativa. E funciona graças aos seus diálogos extremamente bem feitos, situações empolgantes e que lhe deixam na expectativa, e uma luta psicológica nas "lutas" entre L e Light, com ótimos argumentos e soluções lógicas que provam a genialidade de cada um. Kira (nome dado pela imprensa, que vem de killer, do inglês, que significa assassino) tem um senso moral e de justiça radical, se sentindo grandioso e achando ser "o deus desse novo mundo" criado por ele, que é a lei em sua autoritária visão. Apesar de cometer atos terríveis e ser um psicopata, ele acredita estar fazendo o certo e o necessário, fora o fato de que o índice de criminalidade caiu pra quase zero. Condenamos seus atos, mas, em partes, aceitamos seu progresso. Seu maior inimigo, L, por outro lado, tem um forte senso de justiça e é um personagem nobre, ainda que aceite a morte de outros para provar que seu argumento está certo. Ele não apenas é o melhor detetive do mundo, como também o segundo e o terceiro melhor, conhecidos por outros de seus nomes. Mas, apesar de sua genialidade e riqueza (do qual deve usar boa parte em doces), ele carrega uma clara tristeza e se sente solitário, conseguindo imaginar um mundo onde ele e seu maior rival possam ser amigos. Ver esses dois juntos na mesma cena é algo tão espetacular de acompanhar, que mesmo mais de uma década depois, ainda traz o mesmo sentimento de satisfação.

      O problema dessa incrível dinâmica entre esses dois é que ela deixa a segunda metade do anime nas sombras. Após a morte de L, o roteiro tenta repetir a mesma briga psicológica agora com a presença de Near. O problema é que ele é uma versão menos interessante de seu antecessor, que não transmite tantas emoções ao espectador, ainda que com características semelhantes, e seus diálogos com Kira são muito abaixo da qualidade que antes tinha.Verdade seja dita, o ritmo do anime cai muito antes da morte L (precisamente, após Light renunciar a posse do caderno para perder as memórias de seus crimes cometidos), e começa a ficar arrastado em alguns pontos, em um arco que foi mais longo do que o necessário. Mesmo assim, L ainda proporcionava boas cenas de ver e acompanhar, e amenizava essa queda de ritmo.                        

      Depois que ele morreu, porém, o anime é prolongado ainda mais e por vezes fica chato. Durante esses últimos anos, apareceram obras que dominaram completamente essa área de ritmo, então percebi que eu não mais estava tão aberto a deslizes quanto esses. Os animes evoluíram, o que antes achávamos ser detalhes pequenos que não faziam diferença, hoje nos afeta mais.


      Infelizmente, quando se trata de outros personagens que não os principais, poucos são realmente bem aproveitados. A maioria está lá para ser usado pelo Light de alguma maneira. Amane Misa é tão obcecada por ele, que fica cega a realidade, e é usada na trama apenas como um meio de o fazer atingir seus objetivos. A shinigami Rem está lá pra se sacrificar pela Misa e escrever o verdadeiro nome de L no caderno, tudo plano de Kira. Naomi, apesar de ser inteligente e forte emocionalmente, está lá para que Light possa dar outro exemplo de sua brilhante mente e como ele consegue resultados. E por ai vai. Não tenho problema desses personagens estarem conectados a trama dele, o que incomoda é ver que eles dependem do personagem principal para ter qualquer cena, além de serem meras marionetes para que Light atinja o que deseja. Para dar exemplos, em Shingeki No Kyojin, todos os personagens tem subtramas que se conectam a principal, mas funcionam tanto isoladamente, como com o todo. O mesmo vale pra Fate/Zero, Steins;Gate e outros grandes animes que surgiram nesses últimos 10 anos. Death Note ficou pra trás nesse quesito.


      Mas, como comentei acima, isso só acontece com os personagens secundários. Os principais ainda são a estrela e funcionam tão bem quanto antes. Já falei de Light e L, mas Ryuk também é outro excelente personagem que não posso deixar de comentar, afinal, sem ele, o anime não existiria. Yagami Light só se tornou o Kira porque esse shinigami estava com tédio e decidiu se divertir com os humanos. Com sua risada maligna e visualmente assustador, ele ajuda a dar o tom sombrio da história, ainda que fique neutro ao que acontece.


      Outra parte que envelheceu bem é sua parte técnica. A produção da Madhouse se mantém com qualidade mesmo hoje em dia. É óbvio que não dá pra compará-lo visualmente a animes mais recentes, mas é perceptível o cuidado do estúdio, ainda que esteja longe de ser perfeito. Sua excelente trilha sonora também merece uma menção honrosa, e não a toa figura em qualquer lista das melhores de animes. Em resumo, continua um anime muito bom e ainda vale a pena assisti-lo. Mas certas coisas vão incomodá-lo mais do que na época, ainda que tenha envelhecido bem.


Conclusão: Ruim      Mediano         Bom    Muito bom     Excelente

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